A passagem de um estado a outro, o processo, a metamorfose, os limites entre o fazer e o desfazer.
A gravura foi essencial no desenvolvimento do meu trabalho, pois funciona como um cozinhado processual em que a corrosão (o desfazer de um material) dá forma a um desenho, a tinta é depositada no espaço onde já não há matéria. A temporização é também essencial neste processo, desenha-se com a ajuda do tempo, o tempo da corrosão, é necessário abrir espaço suficiente para a tinta, mas não demais ou a matéria dissolve-se.
A gravura foi essencial no desenvolvimento do meu trabalho, pois funciona como um cozinhado processual em que a corrosão (o desfazer de um material) dá forma a um desenho, a tinta é depositada no espaço onde já não há matéria. A temporização é também essencial neste processo, desenha-se com a ajuda do tempo, o tempo da corrosão, é necessário abrir espaço suficiente para a tinta, mas não demais ou a matéria dissolve-se.
Ao imprimir objectos, cabelos, fios, rendas, redes, ninhos… continuo a explorar limites, rasgando e esmagando objectos, abro novos espaços e tento fixá-los no papel. Cabelos como a ligação entre interior/exterior, local de limites e por vezes de tensão entre o dentro e o fora. Fios, rendas, redes, ninhos como estruturas, teias e tramas a serem abertas, transformadas e fixadas. Ao recolher, ampliar e fragmentar imagens até ao desfazer da sua forma inicial exploro outros limites e transformações.
Estes são alguns dos elementos e processos a que recorro repetidamente, sendo que a própria repetição é essencial, pois é através dela que, nas mesmas formas, algo se transforma, se vai modificando lentamente, de forma subtil, mas essencial. No desenho existe também uma propagação da linha que invade uma superfície, seja esta papel, corpo ou objecto, abrindo novos espaços, novos territórios, alterando a função dos objectos e atribuindo-lhes outra espécie de poder.
Sou atraída por toda a espécie de detalhes, gosto de Olhar de perto, dar vida aos desenhos feitos por cabelos, pó, sombras, nuvens, vento, plantas que furam por entre as pedras, água que escorre por entre as rachas da parede, aberturas criadas pela necessidade de respirar, de propagar raízes, folhas, água entranhada e cuspida pela parede criando manchas e formas, criaturas viscosas que vivem nos interstícios, nas entrelinhas.
No desenho procuro a ligação entre interior e exterior, tal como a pele do corpo, a pele do desenho revela o que vem de dentro sendo a linha apenas a ligação entre mundos, o desenho é feito entre territórios e é acedido através do olhar.